segunda-feira, 15 de março de 2010

"Redes sociais não, obrigado"

"Redes sociais não, obrigado"

Por Pedro Afonso

in Jornal Público (15 de Março de 2010)

http://jornal.publico.clix.pt/noticia/15-03-2010/redes-sociais-nao-obrigado-18988716.htm

O crescimento das redes sociais demonstra que o Homem, outrora sonhador, com ideias e valores, está a capitular



"Seja como for, parece não existirem dúvidas de que se criou um certo consumismo social, sem esforço, e acessível a alguns toques no teclado do computador. Porém, as redes sociais da Internet, no sentido em que são redes virtuais e menos complexas, podem surgir como uma forma de resistência à aquisição de uma verdadeira aprendizagem social, promovendo a regressão e a imaturidade. A amizade criada no mundo real demora tempo a consolidar-se e passa por diversas provas que nada têm a ver com as pseudo-amizades do mundo virtual. Por essa razão, nenhum relacionamento através do computador substituiu a experiência da presença humana: a troca de olhares, a expressão facial, os gestos, o tom de voz, etc. As redes sociais favorecem o empobrecimento do relacionamento social - criando-se novas formas de solidão - porque as relações pessoais reais são mais ricas e profundas."


Comentário breve

É uma posição saudosista que, de certa forma, não entende a mudança na natureza das ligações sociais no mundo moderno. É mais uma posição moralista que, apesar das boas intenções, não leva na prática a lado nenhum como aliás todos os moralismos. Talvez faça sentido accionar uma posição dialógica de tipo ético, menos rígida tendo em conta a crise das ligações no mundo moderno.

A idéia de "moral" e "ética", implícita no meu texto, tem origem em Gilles Deleuze "Sur la différence de l'Éthique avec une Morale", segundo capítulo do livro: Spinoza - Philosophie pratique (Minuit, Paris, 1981).

Simplificando ao máximo, a moral liga-se aos "códigos, isto é, o conjunto de valores e regras de acção vigentes na sociedade em que estamos vivendo; guia as nossas escolhas, tomando como referência tais códigos ".

A ética, por seu lado, "guia as nossas escolhas, só que seleccionando o que favorece e o que não favorece a vida, tendo como critério a afirmação de sua potência criadora."


Eu diria que o que está em jogo é o processo terapêutico de individuação (não confundir com o individualismo) num mundo que perdeu a estabilidade anterior. Talvez esse processo se tenha tornado menos linear e pode, apesar de tudo, passar por estas novas redes. Desde que, e aqui está presente uma opção ética, permita, como dizia Carl Jung, uma reconciliação consigo mesmo e ao mesmo tempo com a humanidade no sentido da vida e do respeito pela diferença.

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